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domingo, 26 de dezembro de 2021

Estudo de caso (filme Preciosa) – Fator de risco e a psicopedagogia como ferramenta de orientação.

Estudo de caso (filme Preciosa) – Fator de risco e a psicopedagogia como ferramenta de orientação.



A psicopedagogia clínica, como sabemos, tem como objetivo, através de seu trabalho que é desenvolvido em consultório, e de forma multidisciplinar, atuar no diagnóstico e prevenção de problemas de aprendizagem.

O psicopedagogo clínico, junto com os pais, a escola e pesquisas sobre todo o contexto do aluno, irá identificar as causas que estão levando o aluno a ter dificuldades de aprendizagem e, através de atividades, entrevistas e observação, orientar o aluno sobre a melhor forma de aprender.

Do ponto de vista da psicopedagogia clínica, a investigação deve se iniciar com a família. Através do estudo de outros semestres, vimos que a família é a base de nosso desenvolvimento, e quanto mais harmonioso e positivo for o lar, melhores as chances da criança se desenvolver de forma adequada.

Sabemos que a história da família tem mudado ao longo dos anos, a família passou de patriarcal à contemporânea, e em alguns casos, conforme situação socioeconômica e cultural, perdem a estrutura, deixando de ser base de segurança da criança. A família pode se transformar em fator de risco quando apresenta situações de maus tratos, abuso sexual, exploração dos filhos pelos pais, e outros comportamentos que comprometam a segurança e o bem estar da criança.

A vivência de situações de vulnerabilidade, pode desencadear na criança comportamento violento, sentimento de estar fora da realidade, transtornos de aprendizagem, distúrbios psicológicos e até problemas de saúde.

A seguir, com base na psicopedagogia clínica, veremos uma análise da situação dramática vivida por uma adolescente, no filme “Preciosa”, e como ela conseguiu, através de ajuda, transformar todas as adversidades enfrentadas em força para viver.

O filme “Preciosa”, relata o drama vivido por uma jovem de 16 anos, que apresenta dificuldade social e de leitura na escola, embora tenha bom desempenho em matemática, por viver uma situação de transferência com o professor, que a faz se interessar pela disciplina.  A adolescente, Clareece “Precious” Jones, vive em uma realidade hostil, onde a mãe faz uso de álcool e drogas, não apresenta linguagem correta, usa de forma ilegal o benefício do governo, não trabalha, explora a filha, e permite que a menina sofra violência sexual dentro da própria casa, tendo ela já tido uma filha especial com o pai, e estando grávida novamente, fruto de nova violência.

Todas as formas de abuso são mostradas neste ambiente. A ausência de cuidado, de carinho, de orientação, a constante violência psicológica e física, que expõe Clareece ao fator de risco, que é sua própria família. Toda esta experiência negativa, desencadeia na adolescente, a baixo auto estima, a falta de crença em si, distúrbios alimentares, transtornos de aprendizagem, como é mostrada a dificuldade de leitura que ela apresenta para a professora Blue Rain, do centro de estudos indicado pela escola.

Quando a diretora de sua escola, identifica sua gravidez e visualiza sua vida desestruturada, a encaminha à um centro educativo com acompanhamento individualizado e orientação de assistente social. A queixa foco seria a dificuldade com a leitura e os estudos, entretanto conjugada ao fator de risco vivenciado por ela em sua realidade diária. O fator família teria que ser analisado, e uma saída teria que ser encontrada para que os outros campos pudessem se organizar na vida de Precious.

O trabalho de psicopedagogo no caso de Clareece, primeiramente, deve ser sobre sua autoestima, e sobre toda violência que sofrera na vida. Buscar todos os ‘porquês’ para suas dificuldades.  Para enfrentar seus medos, Clareece faz sempre aflorar sua imaginação, onde o mundo é glamuroso, e ela se sente linda e feliz, sendo assim, dentro dela existe uma menina que sonha, que tem vontades, e as quer realizar.

Vejo dentro deste caso, muito sobre Vygotsky e Wallon.  Com Vygotsky, que nos fala que a criança é fruto do ambiente onde se desenvolve, neste caso a família e a comunidade que a cerca. Ao meu ver, houve falha ao não intercederem por esta criança ainda em idade pré-escolar, pois já existiam abusos e certamente foi onde teve início sua dificuldade de aprendizagem. Houve uma lacuna onde signos e instrumentos deveriam ter feito a mediação para que a criança se desenvolvesse e fizesse sua interação com o mundo exterior, fora do ambiente familiar.

No filme, através da figura da Sra. Weiss (a assistente social), vemos a busca pela realidade da aluna, e as formas de tentar ajudá-la juntamente com a tentativa de ressocialização da relação com a família, esta já não reconciliável. A grande virada da Clareece, acontece com a relação de admiração e suporte de sua professora, onde podemos estabelecer um link com a teoria de Wallon, que defende a afetividade ligada ao processo de aprendizagem.

O ser humano é movido por afeto. Um ambiente positivo, onde exista uma relação de respeito, carinho e troca com o educador, certamente impactará de forma muito positiva no aprendizado da criança. Isso ocorre com Precious e sua professora. Uma professora, que trabalha com amor, e procura analisar a realidade de cada uma delas, e trabalhar suas dificuldades para que possam pensar em um futuro. É esta relação de admiração e afeto com a professora, que impulsiona Precious a tornar sua vida diferente, a dar uma realidade diferente da sua para seus filhos, e pensar para si em um futuro promissor, apesar de todo o sofrimento enfrentado.

Temos neste contexto, o papel da psicopedagogia clínica muito claro, trabalhando de forma multidisciplinar o contexto familiar e escolar, e transformando esta aluna, através da auto estima, através do acreditar em si, pois ela percebe a mudança em seu desempenho escolar e escolhe viver para buscar o seu sucesso, se vê capaz.

Concluindo, com um olhar psicopedagógico, suponho que a identificação das dificuldades desta menina deveria ter sido feita de forma precoce, onde os sinais de comportamentos já se apresentavam. Em uma análise hipotética, uma entrevista com a família, pesquisa sobre a comunidade em que a menina estava inserida, e informações escolares, teriam dado ao psicopedagogo, subsídios para já desenvolver, através também de atividades próprias, seu diagnóstico e poder intervir de forma adequada e multidisciplinar, provavelmente com acompanhamento psicológico

 

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