Estudo de caso (filme Preciosa) – Fator de risco e a psicopedagogia como ferramenta de orientação.
A psicopedagogia clínica, como sabemos, tem como objetivo, através de seu trabalho que é
desenvolvido em consultório, e de forma multidisciplinar, atuar no diagnóstico
e prevenção de problemas de aprendizagem.
O
psicopedagogo clínico, junto com os pais, a escola e pesquisas sobre todo o
contexto do aluno, irá identificar as causas que estão levando o aluno a ter
dificuldades de aprendizagem e, através de atividades, entrevistas e
observação, orientar o aluno sobre a melhor forma de aprender.
Do ponto de
vista da psicopedagogia clínica, a investigação deve se iniciar com a família. Através
do estudo de outros semestres, vimos que a família é a base de nosso
desenvolvimento, e quanto mais harmonioso e positivo for o lar, melhores as
chances da criança se desenvolver de forma adequada.
Sabemos que
a história da família tem mudado ao longo dos anos, a família passou de
patriarcal à contemporânea, e em alguns casos, conforme situação socioeconômica
e cultural, perdem a estrutura, deixando de ser base de segurança da criança. A
família pode se transformar em fator de risco quando apresenta situações de
maus tratos, abuso sexual, exploração dos filhos pelos pais, e outros
comportamentos que comprometam a segurança e o bem estar da criança.
A vivência
de situações de vulnerabilidade, pode desencadear na criança comportamento
violento, sentimento de estar fora da realidade, transtornos de aprendizagem,
distúrbios psicológicos e até problemas de saúde.
A seguir, com base na psicopedagogia clínica, veremos uma análise da situação dramática vivida por uma adolescente, no filme “Preciosa”, e como ela conseguiu, através de ajuda, transformar todas as adversidades enfrentadas em força para viver.
O filme
“Preciosa”, relata o drama vivido por uma jovem de 16 anos, que apresenta
dificuldade social e de leitura na escola, embora tenha bom desempenho em
matemática, por viver uma situação de transferência com o professor, que a faz
se interessar pela disciplina. A
adolescente, Clareece “Precious” Jones, vive em uma realidade hostil, onde a
mãe faz uso de álcool e drogas, não apresenta linguagem correta, usa de forma
ilegal o benefício do governo, não trabalha, explora a filha, e permite que a
menina sofra violência sexual dentro da própria casa, tendo ela já tido uma
filha especial com o pai, e estando grávida novamente, fruto de nova violência.
Todas as
formas de abuso são mostradas neste ambiente. A ausência de cuidado, de
carinho, de orientação, a constante violência psicológica e física, que expõe
Clareece ao fator de risco, que é sua própria família. Toda esta experiência
negativa, desencadeia na adolescente, a baixo auto estima, a falta de crença em
si, distúrbios alimentares, transtornos de aprendizagem, como é mostrada a
dificuldade de leitura que ela apresenta para a professora Blue Rain, do centro
de estudos indicado pela escola.
Quando a
diretora de sua escola, identifica sua gravidez e visualiza sua vida desestruturada,
a encaminha à um centro educativo com acompanhamento individualizado e
orientação de assistente social. A queixa foco seria a dificuldade com a
leitura e os estudos, entretanto conjugada ao fator de risco vivenciado por ela
em sua realidade diária. O fator família teria que ser analisado, e uma saída
teria que ser encontrada para que os outros campos pudessem se organizar na
vida de Precious.
O trabalho
de psicopedagogo no caso de Clareece, primeiramente, deve ser sobre sua
autoestima, e sobre toda violência que sofrera na vida. Buscar todos os
‘porquês’ para suas dificuldades. Para
enfrentar seus medos, Clareece faz sempre aflorar sua imaginação, onde o mundo
é glamuroso, e ela se sente linda e feliz, sendo assim, dentro dela existe uma
menina que sonha, que tem vontades, e as quer realizar.
Vejo dentro
deste caso, muito sobre Vygotsky e Wallon. Com Vygotsky, que nos fala que a criança é
fruto do ambiente onde se desenvolve, neste caso a família e a comunidade que a
cerca. Ao meu ver, houve falha ao não intercederem por esta criança ainda em
idade pré-escolar, pois já existiam abusos e certamente foi onde teve início
sua dificuldade de aprendizagem. Houve uma lacuna onde signos e instrumentos
deveriam ter feito a mediação para que a criança se desenvolvesse e fizesse sua
interação com o mundo exterior, fora do ambiente familiar.
No filme,
através da figura da Sra. Weiss (a assistente social), vemos a busca pela
realidade da aluna, e as formas de tentar ajudá-la juntamente com a tentativa
de ressocialização da relação com a família, esta já não reconciliável. A
grande virada da Clareece, acontece com a relação de admiração e suporte de sua
professora, onde podemos estabelecer um link com a teoria de Wallon, que
defende a afetividade ligada ao processo de aprendizagem.
O ser humano
é movido por afeto. Um ambiente positivo, onde exista uma relação de respeito,
carinho e troca com o educador, certamente impactará de forma muito positiva no
aprendizado da criança. Isso ocorre com Precious e sua professora. Uma
professora, que trabalha com amor, e procura analisar a realidade de cada uma
delas, e trabalhar suas dificuldades para que possam pensar em um futuro. É
esta relação de admiração e afeto com a professora, que impulsiona Precious a
tornar sua vida diferente, a dar uma realidade diferente da sua para seus
filhos, e pensar para si em um futuro promissor, apesar de todo o sofrimento
enfrentado.
Temos neste
contexto, o papel da psicopedagogia clínica muito claro, trabalhando de forma
multidisciplinar o contexto familiar e escolar, e transformando esta aluna,
através da auto estima, através do acreditar em si, pois ela percebe a mudança
em seu desempenho escolar e escolhe viver para buscar o seu sucesso, se vê
capaz.
Concluindo,
com um olhar psicopedagógico, suponho que a identificação das dificuldades
desta menina deveria ter sido feita de forma precoce, onde os sinais de
comportamentos já se apresentavam. Em uma análise hipotética, uma entrevista
com a família, pesquisa sobre a comunidade em que a menina estava inserida, e
informações escolares, teriam dado ao psicopedagogo, subsídios para já
desenvolver, através também de atividades próprias, seu diagnóstico e poder
intervir de forma adequada e multidisciplinar, provavelmente com acompanhamento
psicológico
Nenhum comentário:
Postar um comentário